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Microempresas sentem efeitos da crise global

As micro e pequenas empresas, reunidas em pólos produtivos pelo País, já estão sofrendo com a crise financeira global. Com o aumento dos juros e a valorização do dólar, muitas firmas adiaram a compra de máquinas, suspenderam contratações para o fim do ano e cancelaram horas extras. Houve casos em que as encomendas caíram até 50% neste fim de ano. A retração veio junto com demissões e alta média de 12% nas matérias-primas importadas. Há 264 Arranjos Produtivos Locais (APLs) no País, reunindo mais de 189 mil empresas que geram 2,822 milhões de empregos formais e informais. O economista José Cezar Castanhar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), estima que o faturamento delas é de R$ 200 bilhões por ano. Vestuário, calçados, móveis e bebidas vêm sofrendo mais que alguns segmentos do agronegócio. Segundo Rita Simpson, coordenadora do Pólo de Calçados e Acessórios do Rio, os clientes estão apavorados, com medo de comprar e não conseguir vender. A empresária, que tem uma fábrica e comanda a grife Taoolee, diz que as encomendas neste ano estão cerca de 50% menores em relação a 2007. "Em outubro de 2007, eu tinha mercadoria vendida até fevereiro. Este ano, não vendi quase nada de dezembro. Tenho conversado com representantes dos pólos de Novo Hamburgo, no Sul, e de Franca, em São Paulo, e a situação é a mesma", afirma Rita. Ela lembra que neste ano nenhuma instituição financeira lhe ofereceu crédito para antecipar o décimo-terceiro salário. "Ano passado, todos estavam atrás de mim. Este ano, é só desculpas. E eu estou precisando. Com vendas menores, este ano não tem hora extra nem contratações de fim de ano. Pelo contrário, tive de cortar algumas pessoas por causa da crise." Segundo Delcindo Mascena, diretor-comercial do Pólo de Confecções de Natal, no Rio Grande do Norte, a saída é apostar na moda para superar alta entre 10% e 12% de tecidos e de aviamentos (botões e linhas). "Apostamos em itens de maior valor agregado para estimular as vendas", afirmou. Segundo Castanhar, da FGV, o governo deve criar mecanismos para as pequenas empresas, assim como fez para o setor de construção. "É preciso menos burocracia e impostos." No APL de Móveis e Artefatos de Madeira em Rondon do Pará, na região Norte, já houve queda nos pedidos de exportações de clientes da Europa e dos Estados Unidos. Para Fidelis Paixão, coordenador do pólo, os compradores dos países que estão em recessão encomendaram 50% menos para 2009 em relação a neste ano. "A demissão será o principal reflexo desta crise. Hoje, já sofremos com a alta nos juros. Fixamos uma taxa com os nossos clientes e, ao pegar o crédito no banco, o custo é maior", disse. Segundo um diretor do pólo de Moda Íntima de Nova Friburgo, no Rio, Carlos Leker, os fornecedores já começaram a aumentar o preço dos tecidos devido à alta da moeda norte-americana. "Este mês, cerca de 90% dos fornecedores vão repassar a alta do dólar. E quem não tem crédito, não tem jeito. Está pagando mais caro." No pólo, grande parte das 954 confecções está evitando contratar. E os investimentos ficaram parados, diz o executivo. Segundo Leker, até as linhas de crédito voltadas exclusivamente para os pólos estão mais seletivas. "As empresas não têm geração de caixa. Elas precisam de dinheiro para as encomendas. A empresa em que trabalho havia contratado 30 funcionários para o fim deste ano, mas foi antes da crise. Se for preciso, terei de dispensá-los." Para Carlos Paviani, diretor do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), que congrega o APL de vitivinicultura de cidades do Rio Grande do Sul, o aumento do dólar ajuda as exportações, mas depois encarece o custo das matérias-primas. Segundo Gilberto Braga, economista do Ibmec-RJ, as pequenas empresas dão seu fluxo de caixa como garantia a seus empréstimos, comprometendo ainda mais suas margens. " Só o governo pode mudar esse cenário", afirma o especialista.

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