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Brasil terá um ano de estagnação

Analistas consultados pelo Banco Central acreditam que produção do país registrará crescimento próximo de zero em 2009. Crise fará com que taxa básica de juros caia para 9,25% e inflação perca fôlego

Vicente Nunes

O pessimismo está cada vez maior no mercado financeiro em relação ao crescimento econômico do país neste ano. Em apenas quatro semanas, as projeções de expansão para o Produto Interno Bruto (PIB) desabaram de 1,5% para 0,01%, segundo a pesquisa Focus do Banco Central. E as perspectivas são de que já no próximo levantamento o consenso apontará para contração da atividade. “Eu, particularmente, estou apostando em queda de 0,8% para o PIB, pois, a cada dia, os números são piores, tanto no que se refere à produção e ao consumo quanto ao mercado de trabalho”, afirmou o economista Newton Rosa, da Sul América Investimentos.

Na visão dos quase 100 analistas consultados semanalmente pelo Banco Central, o tombo da economia será comandado pela indústria, que deverá apontar contração de 2% em 2009, resultado considerado catastrófico pelo governo. É justamente na indústria que está se registrando a maior destruição de postos de trabalho. “O momento é de muita dificuldade. O que o governo tem de fazer é tomar as medidas necessárias para amenizar o encolhimento da economia. E isso passa pela redução mais forte da taxa básica de juros (Selic) pelo BC”, disse a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli.

Segundo ela, com o nível da atividade no chão, o mercado está sendo obrigado a enterrar qualquer possibilidade de pressão inflacionária neste ano. Por isso, pela primeira vez em quase um ano, o mercado passou a projetar inflação abaixo do centro da meta (4,5%). Nas contas dos especialistas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá fechar 2009 em 4,42%. “É muito possível que essa taxa seja ainda menor, pois o nível da atividade está muito fraco e não está havendo nenhum repasse da alta do dólar para os preços”, assinalou Maristella. “Agora, é preciso que as projeções para 2010, que estão em 4,5%, também cedam”, acrescentou.

Contradição
Neste quadro de inflação em queda e atividade no atoleiro, o grosso dos especialistas está apostando que a taxa básica de juros (Selic) fechará o ano em 9,25%. Há um mês, a estimativa apontava para 10,38%. Nas contas do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, é possível que a Selic ceda até os 9%, diante do quadro generalizado de contração econômica mundial, que empurrou o Brasil para a estagnação. No entender de Pastore, todas as dúvidas que atormentavam o Banco Central sobre se a crise provocaria uma desaceleração econômica suficientemente forte para conter um possível repasse do câmbio para os preços se desfizeram por completo nas últimas semanas.

Apesar da certeza de que os juros vão cair pelo menos nas próximas três reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) — abril, junho e julho —, os analistas ouvidos pelo BC mostraram uma contradição. Para eles, em 2010, com a economia já retomando parte do fôlego destruído pela crise, os juros tenderão a subir para 9,75%. “Certamente, isso é uma contradição do mercado. A Selic vai cair e se manterá baixa por muito tempo, pois veremos a atividade se expandindo abaixo do seu potencial. Assim, ao projetar juros maiores para 2010, os analistas só estão confirmando o quanto está complicado fazer projeções de longo prazo em tempos de tanta incerteza”, destacou Maristella Ansanelli.

 

O número
Preços
4,42%  é a previsão para o IPCA deste ano feita pela maioria dos 100 economistas pesquisados pelo Banco Central

 
 
Maior acesso às reservas

Com o fluxo de dólares negativo e o crédito internacional ainda muito escasso, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu ampliar o acesso de empresas e bancos às reservas internacionais do país. Agora, os leilões de moeda estrangeira realizados pelo Banco Central não ficarão mais restritos aos exportadores. Se julgar necessário, o BC poderá ofertar dólares para o pagamento de dívidas externas e, sobretudo, para o financiamento às importações. De setembro de 2008, quando o mundo entrou em colapso, até o último 12 de março, o BC vendeu US$ 10,6 bilhões aos exportadores, dos quais US$ 2,1 bilhões já retornaram aos cofres da instituição.

O BC informou que, diante do leque maior de operações, também ampliará as garantias que serão dadas nos leilões. Atualmente, elas se restringem aos títulos da dívida externa do país e a contratos de adiantamento de câmbio (ACCs) e de cambiais entregues (ACEs), instrumentos muito usados pelos exportadores para reforçar o caixa. As garantias, porém, serão definidas antes de cada de leilão, sempre seguindo a regra de segurança máxima adotada pelo BC.

A falta de um detalhamento maior da medida levou o mercado a concluir que o BC teria aberto uma janela alternativa à linha de crédito criada para empresas e bancos endividados no exterior. Nas três tentativas do BC de liberar reservas para a quitação desses débitos, não houve demanda. Segundo o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, essa linha é burocrática demais, dificultando o acesso aos US$ 36 bilhões disponibilizados pelo BC.

Para Maristella Ansanelli, é preciso que o BC detalhe melhor a ampliação dos leilões de moeda estrangeira, pois os recursos disponibilizados serão muito bem-vindos. Ela ressaltou ainda que, ao suprir as necessidades de dólares do mercado, o BC tira pressões sobre os preços do dólar e da inflação. “Mas é preciso detalhar bem como serão esses leilões e quais as condições oferecidas”, destacou. (VN)
 

 
IPC-S atinge 0,46%


A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal acelerou, passando de 0,37% em 15 de março para 0,46% em 22 de março. Os alimentos foram os itens que mais subiram: de 0,37% para 0,73%. Os mais salgados foram as hortaliças e legumes, que passaram de 2,42% para 4,13%. As frutas também ficaram mais caras e viram seus preços aumentarem 3,72% nas últimas quatro semanas. O mesmo aconteceu com os pescados frescos, que dispararam 2,65% principalmente pela proximidade da Semana Santa, época em que esses alimentos são mais procurados. Os itens de vestuário (foto) registraram variação negativa de 0,05% nas últimas quatro semanas. No IPC-S anterior estavam em -0,20%. Para essas mercadorias, a tendência é de aumento de preços por conta da chegada da nova coleção nas lojas e do fim das liquidações. Para a inflação, ao contrário, a tendência é de queda. (Luciana Navarro)
 
 

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